A música é um presente

Um pouquinho do talento musical dos moçambicanos

Em um bar, numa esquina ou num encontro de amigos. Por toda Maputo e nos rincões de uma província de Moçambique. A música está ali, presente como um presente.

Ela chega pelas vozes e tambores dos irmãos moçambicanos. E ela persiste num som que transcende os espaços e o tempo. 

Em “Moz”, é assim. O talento musical grita e sorri. Não precisa de um motivo, não é necessária uma ocasião especial. A música tradicional moçambicana flui como as águas do Rovuma. É fluida e contagiante…

O vídeo abaixo mostra um pouquinho disso:

  

As coloridas capulanas

Oba, estamos de volta

Meu período de experiências em Moçambique se encerrou. Mas o blog não chegou ao fim. Demorei, mas voltei ao “Terras de Moçambique“. Por que? Pergunte para a “saudade”.

Nessa ausência do blog, pude perceber o quanto foi transformadora à experiência de viver em outro continente. Sentir as influências de uma cultura diversa da minha me fez muito bem. Prova disso, é a saudade imensa que estou sentindo, agora. 

Aproveito esse retorno para agradecer a todas as pessoas que me acolheram em Moçambique (principalmente: Felipe, Ngomane, Patrícia, Germaine, Patrick, Mara,  Daniel e Rastas do Intaka). E também para expressar à minha gratidão a todos os leitores do blog, que têm me incentivado a continuar a escrever sobre esse apaixonante, colorido e intrigante país. 

Mapa MoçambiqueÉ sempre um prazer falar ou escrever sobre Moçambique. São terras de uma pátria que, se não nasci em carne, encontrei-me “redescoberto em espírito”. A palavra é paixão. Sou apaixonado por esse país e por tudo o que o envolve a sua gente (digo isso sem medo de errar).

Tenho que confessar a você: fui consumido pela riquíssima cultura de Moçambique. Isso foi ótimo! Ah, e  também me indignei com as dificuldades enfrentadas por sua gente. Isso doeu! Quando paro e penso em tudo que vivi, fica um sentimento de que muita coisa ficou por dizer. Foram apenas sete meses vivendo nessas terras, e o que postei por aqui não é nada. 

Mostrar para vocês um pouco de “Moz”, é relatar o quanto foi válida à minha experiência como estudante de jornalismo por lá. É evidenciar o quanto eu aprendi com os irmãos moçambicanos. É mostrar, de alguma forma, as cores dessa gente guerreira e de sorriso largo. 

Por isso, voltei.  E sem pretensões (apenas movido pela saudade), quero continuar a trazer para você um pouquinho mais desse país. 

O teor do presente post foi escrito ainda quando eu vivia em Moçambique. Talvez tenha me faltado tempo para publicá-lo. Mas nunca é tarde, aqui vai ele… 

Espero que você goste e continue acompanhando.

CAPULANA – uma indumentária típica de Moçambique

capulanas moçambicanas

Quem anda por Maputo, capital de Moçambique, ou viaja pelo país, já viu incontáveis vezes as mulheres por aqui usando esse tipo de tecido, uma tradição cultural moçambicana.

As ruas são pintadas pelas cores das vestes dessas mulheres, que usam a chamada “capulana”. Você já ouviu falar? A capulana de Moçambique se assemelha a uma canga que nós usamos nas praias brasileiras. Só que é um tecido mais grosso e as mulheres daqui as usam no dia a dia.

O pano chega a ser um pouco áspero, se comparado ao das cangas que estamos acostumados. E é exatamente isso que o faz ser tão usado.

Basta dar um nó que fica seguro e vira uma saia. Não há perigo do nó se desfazer e as cores vibrantes chamam a atenção, conferindo à indumentária um charme todo especial.
São realmente lindas: tons coloridos com motivos africanos, formas abstratas, padrões xadrezes, linhas antropomórficas, desenhos zoomórficos e uma variedade infinita de detalhes, que deixam todo mundo admirado com a beleza desses tecidos, principalmente aqueles que vêm de fora e não estão acostumados com essa riqueza de cores.

O tecido é vendido em cortes de 2 metros. Tradicionalmente, as capulanas são de 4 metros e se vende a metade, que serve para as mulheres daqui cobrirem o corpo numa espécie de saia que elas improvisam. Mas há também outras formas de usá-la, como contarei a seguir.

capulanasA tradicional capulana veste todas as classes sociais. Mas quem usa mais são as camadas pobres. Com preços acessíveis, o tecido é comprado pelas “mamás” (maneira respeitosa como os moçambicanos tratam as mulheres mais velhas), e serve para vestí-las, para carregar suas crianças nas costas e sentar no chão.

Nas classes média e alta, a capulana já não é muito usada da maneira tradicional como o moçambicano está acostumado: em forma de saia. Entre elas, a capulana ganha um ar mais descolado. As mulheres fazem calças e blusas do tecido, criam pulseirinhas e colares com o pano, usam bolsas feitas com as estampas das capulanas, e você pode ver até mesmo um “lencinho cult” amarrado no pescoço ou na cintura, que combinam com sandálias e rasteirinhas explorando a versatilidade do produto.

O tecido é utilizado também em ritos de passagem como o batismo e o funeral. Usa-se ainda para decorar a casa, o sofá e a mesa de jantar.

Vejo ainda muitas mamás usando a capulana jogada ao chão com seus produtos à venda. Os homens? Ah, eles também usam. Nas ruas de Maputo vejo muitos com camisas e calças de capulana. Contudo, é a mulher moçambicana que não deixa a tradição de usar as capulanas se perder.

A origem da capulana e o comércio do produto

A versão mais disseminada, segundo vários moçambicanos que conversei, é de que capulana foi trazida da Índia. Abaixo segue um fragmento extraído do site “Moçambique Tradicional”. O recorte traz um pouco mais sobre a origem da capulana.

“A presença indiana é um factor decisivo no desenvolvimento do traje da mulher moçambicana, refere o documento da exposição de Suzette à Festa na Ilha. O mesmo documento diz ainda que mais tarde, em meados do Séc. XIX, no Sul do Save, as transacções comerciais envolviam capulanas ou um jogo completo de dois panos e lenços. O documento faz menção ainda ao povo português, que foi um dos responsáveis por este tecido se espalhar por África.

Sabe-se que várias regiões de Moçambique produziram têxteis. Durante os Séc. XVIII e XIX, os Estados Marave do Norte de Moçambique produziam panos de algodão de cor branca, as machiras que faziam parte do comércio internacional na costa oriental de África. Do Séc. XVIII em diante começa o período de importação de tecido. No princípio do Séc. XX, no litoral de Cabo Delgado as mulheres com possibilidades financeiras, vestiam as capulanas intituladas tuukwe ou succa. A primeira tem cor preta e a segunda, branca.

Os comerciantes vendiam-nas, cortando-as em duas peças de tecido com um comprimento de quatro metros”, refere a mesma fonte. Já no Sul de Moçambique, na região de Delagoa as mulheres com posses vestiam-se com pano azul-escuro sem qualquer padrão. O uso das cores indicava ainda a posição social, rituais e convicções culturais e religiosas. Só a partir de 1920 é que a capulana começa a ser vestida à escala nacional. Dos anos de 1930 em diante, em todo o território moçambicano generalizou-se o uso da capulana”.

Independente da veracidade da sua origem, incrível mesmo é um tecido tão simples ter sobrevivido há séculos”.

Fonte de pesquisa: Moçambique Tradicional.

Hambanine e até o próximo post!

Executivo entre os piores

Falta de transparência do poder público e  “captura partidária da soberania” afetam diretamente a vida dos moçambicanos

Em recente pesquisa, a Fundação Mo Ibrahim avaliou todos os países do continente africano na questão da boa governança.

O estudo proposto pela instituição considerou o desempenho dos governos africanos em várias áreas como a segurança e estado de direito, o acesso à educação, a saúde, o respeito aos direitos humanos, a transparência governamental, a assistência social, o desenvolvimento humano, o coméricio, a economia e o grau de implementação de programas de estruturação desenvolvimentistas.

Após esse minucioso relatório foi criado um ranking e Moçambique, figurou entre os piores países da África Austral nesses quesitos avaliados.

Nas questões de segurança e estado de direito o país está na 17ª posição na África. Já quando se fala em direito humanos, Moçambique está apenas em 25º lugar no continente.

Dos 52 países africanos avaliados, Moçambique no comércio apresenta a 28ª posição, no desenvolvimento humano fica no 35º lugar, na assistência social cai para 46ª colocação, enquanto que no acesso à educação ocupa o 39º lugar. Agora, o índice mais curioso: a transparência governamental. O país ocupa apenas a 47ª posição em todo o continente.

Segundo o estudo da Mo Ibrahim, Moçambique ocupa a 21ª no ranking geral do índice, e está entre os seis piores da África Austral.

Dos 10 melhores países em boa governança na África, sete são da  da África Austral.  Quem encabeça a lista é as Ilhas Maurícias, seguidas por Cabo Verde, Botsuana, Ilhas Seychelles, África do Sul, Namíbia, Gana, Tunísia, Lesotho e Tanzânia. E na região, Moçambique está à frente apenas de Angola, Madagascar, Zimbábue, Swazilândia e Congo.

Unipartidarismo?

De acordo com o sociólogo Boaventura Sousa Santos, professor da Universidade de Coimbra, “a FRELIMO (partido no poder de Moçambique desde 74) tem agressiva e violentamente usurpado todos os espaços político-democráticos de quase todas as instituições do governo e do Estado”.

Daí já dá para termos a dimensão do que é vivido pelos moçambicanos e, diante disso, não há como melhorar os índices que citei acima.

Mesmo sendo um estrangeiro vivendo em Moçambique, não consigo deixar de perceber os momentos excepcionais que o país vem respirando, particularmente, em relação ao seu espectro político-democrático.

O que se vê é uma completa captura partidária da soberania e do sistema democrático-administrativo, onde o Estado transmutou-se num único partido retirando a voz do cidadão.  Ou será que em algum tempo esse mesmo cidadão teve (realmente) essa voz? Fico a me perguntar sobre isso.

Por mais que eu converse com alguns moçambicanos e muitos me afirmem que há liberdade civil por aqui, ouso discordar, em partes. Fiquei sabendo de vários casos onde a onipotênica e onipresença da FRELIMO neutralizou vozes críticas (principalmente as de jornalistas) com levantes contrários à atuação do partido no país

Isso me fez lembrar uma frase do poeta moçambicano, Eduardo White, onde ele diz : (…) “Nós que não mudamos de medo por termos medo de o mudar”.  Sim, em Moçambique, existe um medo irracional da FRELIMO. Porém, o medo deveria ser o de ter medo.

São questões muito sensíveis. Há quem diga que Moçambique aderiu à fórmula de Putin, na Rússia e outras preocupações viscerais surgem quanto à sucessão presidencial, pois o país nunca viu até hoje um presidente que não fosse da FRELIMO.

Outra preocupação que percebo em alguns ativistas políticos por aqui é a questão das privatizações no país. Multinacionais como a Petronas, a Anadarco, a Rio Tinto, a Mozal, a Statoil e a Kenmare estão “tomando conta do pedaço”, como diríamos no Brasil.

Agora a pergunta que não quer calar. Alguém está lucrando com isso? Claro que sim, mas isso permanece em sigilo absoluto (risos). A verdade é que o trabalho informal cresce cada vez mais e os índices de desemprego são assustadores.

Enfim, há uma coisa que não posso deixar de mencionar também.  Vejo um Estado que se assemelha a uma “mamá” (nome que os moçambicanos dão carinhosamente às senhoras mais velhas) que engorda a olhos vistos e que com suas “tetas fartas”, só alimenta os filhos mais próximos. Os outros filhotes que estão fora do ninho e não são tão queridos permanecem na miséria de uma “subsobrevivência”.

Princípio da Transparência e uma democracia incompleta

De acordo com a Constituição da República de Moçambique, em seu artigo 48, todos têm direito de receber dos órgãos públicos informações que sejam de seu interesse particular ou interesse coletivo.

A liberdade de imprensa e de expressão e o direito à informação emanam da própria Carta Magna do país. No entanto, sabe-se que a coisa fica só no papel.

Informações como orçamentos públicos, gastos governamentais, investimentos e contratações são retidas pelo governo e o cidadão não consegue obtê-las.

Se pensarmos sob a égide do direito internacional a Lei de Acesso à Informação é um direito humano fundamental, sendo um mecanismo para a efetivação de outros direitos. Só que o buraco aqui é mais em baixo.

Não há uma lei no país específica para tratar do assunto. Vários países já possuem uma legislação que regulamenta esse direito, e Moçambique ainda é um dos poucos que não conta com isso. Talvez pela falta dessa lei, aqueles índices mencionados no ínicio do post estão do jeito que estão.

O direito à informação pública dá poder aos cidadãos, promovendo maior participação popular, além de aprimorar os direitos sociais, políticos e econômicos de cada pessoa.

Creio que um indivíduo só pode dizer que participa de uma coletividade quando tem acesso às informações do governo que lhe permitam refletir sobre o que acontece ao seu redor.

Com essas informações em mãos ele pode controlar melhor seus dirigentes, aguçar um senso crítico em si e nos seus, fazer propostas, julgar e ter a possibilidade, de fato, de escolher quem deseja estar à frente do Estado.  Porém, pesaroso, não vislumbro isso entre muitos moçambicanos, que sem acesso às informações que o Estado guarda, não podem, de fato, opinar em nada.

A existência desse dispositivo legal, a meu ver, corrobora para o fortalecimento de uma cultura de transparência e de um controle social da administração pública.

Espero, sinceramente, que em breve isso se estabeleça em Moçambique, pois com a aprovação de uma lei de acesso à informação e transparências das ações governamentais, todo moçambicano poderá no futuro ter acesso aos resultados dos investimentos diretos do Estado.

Poderá, ainda, verificar quanto ganha um político, conhecer um parente próximo do “figurão” que trabalha na administração pública  e ver com olhos reais quem está à frente de organizações e entidades governamentais. E o mais importante: saberá quem de fato comanda os investimentos e os recursos públicos, que deveriam (em tese) ser destinados à população.

Espero não sofrer retaliações por esse texto, afinal, a liberdade de expressão é um direito fundamental e deveria ser uma cláusula pétrea por aqui também.

Hambanine e até o próximo post!

Fonte de pesquisa:

Fundação Mo Ibrahim

Constituição de República de Moçambique

Jornal Notícias – Moçambique

O trabalho em Moçambique

Saiba mais sobre as políticas para quem precisa trabalhar no país e a questão do trabalho infantil

“Moçambique está longe de alcançar os padrões internacionais considerados dignos para o trabalho”. Essa foi a frase usada por Samuel Jolilo, representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no país, em recente entrevista concedida à Rádio Moçambique, o maior veículo radiofônico daqui.

O analista da organização ainda reconheceu a falta de vontade política para melhorar essa situação. De acordo com ele, “a prioridade do Conselho Consultivo de Trabalho da organização é juntar forças com a sociedade civil para pressionar o governo moçambicano a tomar providências para amenizar os efeitos dos baixos salários pagos ao trabalhador, além de estabelecer uma legislação menos esparsa em relação à proteção social, garantias, deveres e direitos de quem trabalha”, considerou.

“A informalidade não pode ser mais ignorada no país”. Outra frase impactante da mesma entrevista. A verdade é que o representante da OIT está coberto de razão, pois o que impera em Moçambique é o trabalho no setor informal. E não há  políticas laborais que amparem esses trabalhadores. O governo praticamente não olha para essas pessoas.

De acordo com o  representante, esses trabalhadores do setor informal contribuem para o Estado através de pagamento de impostos, só que não têm uma contrapartida, pois faltam políticas claras que os ampararem no futuro.

Se no Brasil estamos acostumados a ver o trabalhador recolher o INSS para fins de aposentadoria, por aqui, a vida dessas pessoas que vivem na informalidade é um precipício com um abismo sem fim.

Falta de proteção social, baixos salários, impedimentos legais e injustos, além da falta de intervenção do Estado são os maiores problemas a meu ver. A palavra “dignidade” navega em outro mar que não o da costa desse país. Isso sem falar no trabalho infantil que conto a seguir.

Miúdos (crianças) a trabalhar

Na mesma entrevista o analista da OIT fala também sobre o drama dos trabalhadores de “palmo e meio” (como chamam as crianças que trabalham desde cedo por aqui). E quando esse assunto é ventilado não há como não se indignar.

De acordo com ele, “é um tormento ser criança orfã ou vulnerável em Moçambique. Em função da pobreza, maus tratos familiares e mortes prematuras dos pais, muitas crianças abandonam a escola para trabalhar em condições arriscadas na rua, no mercado informal ou até mesmo em lixeiras”.

Diferente de algumas partes do Brasil? Não, mas a Lei de Promoção e Proteção dos Direitos da Criança em Moçambique, datada de 2008, proíbe o trabalho infantil a menores de 15 anos, prevendo medidas punitivas contra o empregador. No entanto, o que percebo é que muitas crianças são forçadas a trabalhar pelas próprias famílias e muitas delas abandonam as escolas em função da necessidade de gerar renda.

De acordo com o Relatório de Pobreza Infantil e Disparidades de 2010 que tive acesso, cerca de 28% das crianças de 5 a 14 anos, estão envolvida no trabalho infantil no país, lembrando que Moçambique tem quase 50% da sua população formada por crianças.

Segundo as informações do mesmo relatório, há algumas diferenças entre as crianças que vivem no campo e as que vivem na cidade. As da zona rural contabilizam 76% das que estão envolvidas diretamente com o trabalho, contra 30% das crianças que trabalham nas cidades.

Tive a oportunidade de conversar com algumas crianças que vi trabalhando nas ruas de Maputo e na Praia Costa do Sol. O que ouvi foi de arrepiar os cabelos.

Uma delas, de aproximadamente 11 anos, me contou que conhece a realidade de trabalhar longas sete horas por dia para garantir o sustento de suas irmãs menores.

Ela vende água fervida em garrafas de plástico usadas, no terminal de transportes semi-coletivos da Praça dos Combatentes, em Maputo, por apenas 2 meticais cada. Diariamente ela leva 30 garrafas para vender.

Contou-me também que sua mãe faleceu há 2 anos e que hoje ela mora com sua tia junto de suas outras duas irmãs. O seu pai? Ela não tem notícias. “Quem não trabalha não come”, foi uma frase que ouvi da menina que tem um olhar de uma senhora de 40 anos.

Esse é só um dos muitos exemplos. A todo instante nas ruas de Maputo você vê crianças comercializando algo, nas esquinas, nos faróis, nas calçadas e nos vários mercados espalhados pela cidade. E nas zonas rurais? Ah, lá o trabalho infantil é pesado nas machambas (hortas no dialeto changana).

Quando paro e reflito sobre essa situação, só consigo pensar  que é  necessário reforçar o melhoramento da capacidade das instituições governamentais e contar com o apoio de outros atores sociais que devem se envolver ativamente nessas questões potencialmente negativas. Enfim, Moçambique vive uma situação delicada em relação a tudo o que contei aqui. E não é diferente em toda a África.

Enquanto os governos africanos permanecerem “mamando nas tetas” dos seus respectivos estados, a coisa vai continuar assim: leis do trabalho da  era colonial, que prejudicam os trabalhadores, as crianças e o desenvolvimento de seus países.

Hambanine e até o próximo post!

Fonte de pesquisa:

Lei de Promoção e Proteão dos Direitos da Criança em Moçambique

Rádio Moçambique

Jornal Notícias

Jornal A verdade

Ministério da Acção Social do Governo de Moçambique

Comitê das Nações Unidas para os Direitos das Crianças

A África arde

Saiba mais sobre os desafios de alguns países da África Austral

O continente mãe (porção de terras que se não nasci em carne, hoje, sinto-me renascido em espírito) ainda está longe de deixar de preocupar-se com algumas “nuances” que, para alguns países, são apenas problemas já superados.

Muitas nações do globo já solucionaram ou talvez nunca vivenciaram a pobreza em estado extremo, não tiveram problemas com a epidemia da AIDS ou experimentaram o abismo de uma pseudoliberdade democrática.

Talvez não viveram em suas terras uma fome falimentar que assolou vidas inteiras ou não puderam sentir o gosto amargo de guerras internas. Pode ser que em tempo algum, não sentiram cortar suas almas pela falta de liberdades civis ou viram uma corrupção institucionalizada por um Partido/Estado (em alguns casos fica difícil separar isso) que foi libertador no passado e agora, faz às vezes de déspota.

Quem sabe gerações inteiras de “não-africanos”, não viram a escassez do saneamento básico, a pouca higiene com as coisas ou ainda a dificuldade de se encontrar água potável.

Tudo isso para muitos países já foi resolvido e faz parte de um passado distante (quase remoto). Porém aqui na África, essas, digamos, “calamidades sociais”, são a causa de inúmeras mortes e estão presentes no dia a dia de milhões de pessoas.

Quando cá cheguei, algumas pessoas me falaram sobre o tal “choque de realidade” que eu iria sentir e confesso: no início de minha estada por aqui isso não aconteceu.

No entanto, depois de longos 150 dias vivendo nesse continente apaixonante e ao mesmo tempo caótico, esses problemas enfrentados pelos irmãos africanos passaram a me afetar de uma maneira que ainda não julgo compreender.

O que eu chamo de “caos”, os africanos chamam de vida e, ainda, são generosos, nobres e sorriem. Confesso: isso impressiona-me. E talvez seja esse o resultado da minha não compreensão de certas coisas por aqui.

Quando paro e penso nessas questões difíceis enfrentadas por eles, sinto um certo asco e uma vontade imediata de poder ajudar de alguma forma na alteração desse quadro potencialmente negativo. Porém, quando meu pragmatismo fala mais alto, recolho-me à minha insignificância e engulo seco a indignação junto à comoção que tudo isso gera.

O que cresce é o sentimento de impotência que se alimenta do meu contato com o povo mais simples que vejo comer xima, pão e abadia (comidas típicas das massas moçambicanas e de parte de alguns países da África Austral). Diante dessa realidade opressora, meus pensamentos ficam à deriva tal qual a sorte de muitos irmãos africanos que conheci por aqui, que navegam em mares revoltos de uma “subsobrevivência”.

Para um brasileiro que vivia na região sudeste de seu país (que teve acesso à escola e a oportunidades), problemas como a pobreza generalizada, a desnutrição, a mortalidade infantil, a violência gratuita, o abuso infanto-juvenil, a falta de acesso a medicamentos, a pouca escolaridade de jovens, os índices absurdos de natalidade, as estradas intransitáveis, a falta de alimentos, os escasos centros de saúde e o precário abastecimento de água eram realidades minimamente sentidas e às vezes, sequer pensadas.

A gente vê isso apenas da altura dos noticiários que, na verdade, mostram muito pouco essas adversidades. “A zona de conforto, o poder, o nacionalismo exacerbado e a mídia banal são o inferno”, já dizia algum sábio do passado num dia libertador.

Só que depois desse tempo vivendo em terras africanas, as coisas que fui vendo com meus próprios olhos passaram para mim do leve incômodo à intolerância desmedida, quando o assunto passou a ser a vida humana ou a falta dela, no seu estágio mais visceral – a sobrevivência.

Se para países desenvolvidos muitas doenças são facilmente preveníveis e curáveis, na África, essas mesmas matam, repito: matam diariamente centenas de pessoas. E parece que ninguém se importa, ou o que é feito a respeito para alterar esse quadro é sempre muito pouco.

Clique no vídeo abaixo e saiba mais.

Viver em Moçambique tem me mostrado esse ambiente caótico e agora, num misto de repúdio e esperança, divido contigo algumas duras constatações que tenho experimentado. Dito isso, passemos a alguns indicadores africanos (que julgo como intoleráveis).

Quando a ânsia é maior e a indignação torna-se um fardo, eu, como um pequeno operador da comunicação, não poderia deixar de vomitar certas coisas.

Você gosta de textos vomitados? Pois bem, esse é um daqueles que muita gente não gosta, por tratar-se de problemas alheios, aparentemente distantes. Mas enfim, vai aqui a mostra do que tem revirado o meu estômago. Se você tem também um estômago fraco ou faz pulsar em suas artérias um pouco de sensibilidade, continue a ler esse texto e ao final vomite comigo o que eu chamo de caos.

De acordo com o Conselho Nacional de Combate ao HIV de Moçambique (CNCS), diariamente, 320 crianças com idade inferior aos 5 anos morrem vítimas de doenças preveníveis e curáveis como as infecções respiratórias, a diarreia e a malária. Por que? Porque esses miúdos (como dizem por aqui) estão infectados com o vírus HIV e tem por causa mortis essas doenças relacionadas.

Quando se precisa ir ao hospital, em muitos casos, os pais desses menores não têm meios próprios e nem apoio do Estado para tratar suas crianças, contando apenas com a ajuda de organizações internacionais que são apoiadores, como é o caso da Save the Children, organização que tive o prazer de conhecer.

Para milhões de vítimas desta epidemia, o apoio dessas organizações não governamentais, é tido como a única alternativa frente à escassa ajuda que o Estado oferece. Isso é realidade só de Moçambique? Não, infelizmente, a maioria dos países africanos respiram isso e se intoxicam cada vez mais nessa orbe deletéria.

Uma das doenças que mais assolam a África é a AIDS. Falei o óbvio? Sim e não. Sim, pois todos sabem e não, porque a meu ver, muito pouco é feito a despeito, apesar de algumas tentativas que são louváveis.

O HIV é uma ameaça direta ao desenvolvimento social e econômico de Moçambique e de toda a África. Mas das esferas dos seus umbigos, muitos governantes, não percebem essa realidade.

Dados recentes revelados pelo CNCS mostram que 1,6 milhão de pessoas tem o vírus HIV no país, dos quais 37% são homens, 54% são mulheres e 9% correspondem a crianças.

Segundo os indicadores da pesquisa, o grupo com maior vulnerabilidade é o das mulheres. De cada 10 portadores do HIV, 6 são do sexo feminino. A faixa etária com maior risco é a de 15 a 29 anos, nas quais as mulheres têm aproximadamente três vezes mais chance de adquirir a doença.

De acordo com o relatório do CNCS, apesar do significativo crescimento dos serviços de tratamento antirretrovirais (TARV) no país (inclusive com apoio do Brasil nisso), a cobertura para quem necessita deste tipo de auxílio é ainda insuficiente em Moçambique.

Hoje, são cerca de 374 mil adultos e 72 mil crianças no estágio avançado da doença. Porém, apenas 42% e 19%, respectivamente, recebem um tratamento adequado.

Outros dados

A Unaids, órgão das Nações Unidas para o combate à AIDS, registrou em seu relatório de 2011 que na Suazilândia (pequeno reino vizinho à Moçambique), há 25,9% da população infectada com o vírus.

Já na África do Sul são 17,8% da população. Dados alarmantes também revelam que na Namíbia estão infectados 13,1% da população e no Zimbábue, de acordo com o mesmo relatório, são 14,3% portadores do HIV.

No Malawi 14,1 % da população sofre com a epidemia. Em Lesotho são registradas 18 mil mortes por ano relacionadas à doença. E na Tanzania 1,4 milhão de pessoas vivem com o HIV/AIDS.

Todos esses dados foram levantados junto à Unaids, mas há que se mencionar que que esses índices podem ser ainda maiores, pois há muitas pesquisas datadas ainda do início da década de 2000.

Quer saber mais sobre isso e ver um exemplo dessa dura realidade? Clique aqui.

De acordo com o mesmo relatório, as causas e/ou porquês da ocorrência dessa enfermidade podem estar relacionadas à prostituição, ao casamento precoce, à troca constante de parceiros, além da desinformação sobre o assunto. Concordo e discordo. Há também que se mencionar a falta de políticas públicas eficazes voltadas à problemática.

O que um ativista da Save the Children me informou numa conversa rápida que tive com ele ainda quando estive na Unicef Moçambique para fazer uma matéria (leia aqui o post da Unicef), é que um dos artifícios de prevenção da AIDS é distribuir camisinhas para a população. Porém, de acordo com o membro da organização, apenas “esse ato não dá a certeza de que a sociedade mude alguns hábitos enraizados na cultura local. A verdade é que o africano não gosta de usar preservativos”, revelou.

Conforme fui informado, palestras nas comunidades sobre a AIDS/HIV e sua prevenção estão sendo feitas constantemente por toda a África. Outro serviço prestado pelas ONGs é o teste para a verificação da presença do vírus HIV.

Suco gástrico

Um coisa que percebo é que os países da África crescem consideravelmente e estão, aos poucos, reformulando-se e entrando num outro momento, talvez de avanços, se a corrupção institucionalizada der uma refreada. No entanto, quando fala-se da questão da AIDS e do seu controle, a coisa parece-me ser ainda nebulosa. Os números continuam a ser assustadores, essa é a verdade.

Enfim, vejo também uma aceitação passiva de uma população que se tiver pão e xima em casa já é muito. Cabe tocar nessa ferida da passividade dos moçambicanos ou dos africanos de um modo geral, diante do caos? A meu ver não, pois o povo mal se sustenta em pé diante de tamanhas adversidades.

A intensa corrupção dos governos e a democracia com liberdades discutíveis ainda imperam em diversas regiões africanas e, infelizmente a África Austral (região onde vivo) engrossa as estatísticas.

Essas situações mencionadas são fatores que, a meu ver, agravam a questão da AIDS, pois infelizmente, vejo governos africanos preocupados apenas com a manutenção de seus respectivos poderes.

Falta vontade política para transformar vidas, dar oportunidades e estabelecer, de fato, melhorias significativas na vida dos africanos.

Creio que para se falar em dias melhores para os africanos há muito chão por se percorrer, tipo aqueles de terra batida ou aquelas estradas empoeiradas intermináveis com curvas sinuosas. É uma questão de amadurecimento e o “ataque ao caos” deveria atingir primeiro alguns males que corroem a base da sociedade africana: a fome, a falta de água e a higiene, além é claro, de um franco combate à corrupção de governos pseudodemocráticos. A palavra transparência deve passar a existir para esses povos.

Sem muito otimitismo, finalizo esse post, querendo crer que haja, no futuro, mais vontade política para tratar com respeito todas essas questões tão indígnas. Por enquanto, eu apenas vomito um suco gástrico de denúncia, com um cheiro ardido de indignação, nos governantes africanos e, principalmente, no governo de Moçambique.

Hambanine e até o próximo post!

Fontes de pesquisa:

Conselho Nacional de Combate ao HIV (CNCS)

Club of Mozambique

Save the Children

Unaids

Infâncias perdidas

Cresce o número de crianças que chefiam famílias e que sofrem com a violência de adultos em Moçambique

Amadurecimento precoce, trabalho infantil e orfandade. Menores sujeitos a vários tipos de violência, originada, em muitos casos, pelo desequilíbrio daqueles que deveriam cuidar, educar e garantir a segurança dessas crianças e adolescentes.

Aqui na África esses temas são recorrentes. E Moçambique, infelizmente, vem aumentando o número dessas aterradoras estatísticas.

Na ausência dos pais, ainda muito cedo, os miúdos (como dizem por aqui) assumem a responsabilidade de cuidar dos seus irmãozinhos mais novos. E pelas dificuldades de sobrevivência, milhares perdem alguns direitos essenciais na vida de qualquer criança, como por exemplo, a educação, a alimentação digna, o lazer, as brincadeiras, os cuidados médicos e a proteção contra possíveis formas de exploração de mão de obra infantil.

Por aqui essas questões são mega sensíveis. De acordo com dados revelados recentemente pela UNICEF, existem aproximadamente 20 mil crianças chefiando famílias no país. Outro dado alarmante que apurei junto à Save the Children é que o número de crianças órfãs vítimas de pais com HIV/AIDS tende a crescer em Moçambique, nos próximos anos. Isso significa que o número de chefes de família menores de idade poderá aumentar ainda mais.

De acordo com a instituição, hoje, são aproximadamente 1,8 milhões de crianças órfãs e vulneráveis no país. E agora, pasme: apenas 20 % destas crianças recebem algum tipo de assistência do Estado.

Desnutrição, êxodo escolar e violência gratuita

Os dilemas infantis mencionados até agora são apenas a ponta do iceberg. Há outros problemas sérios que afetam o desenvolvimento saudável da criança por aqui. Um crônico é a questão da desnutrição, uma das principais causas da mortalidade infantil, ainda hoje.

Estatísticas da UNICEF afirmam que esse problema afeta cerca de 44% do total das crianças moçambicanas, lembrando que o país tem quase 50% de sua população formada por crianças e adolescentes.

Outra situação sem um futuro promissor é o êxodo escolar. Atualmente, segundo a instituição, cerca de 200 mil crianças em idade escolar não têm acesso à educação no país.

Infelizmente, é comum em Moçambique vermos crianças que são obrigadas a abandonar os seus estudos para cuidar das “machambas” (hortas de agricultura familiar), ou ainda,  é recorrente presenciarmos as que deixam de estudar devido a casamentos prematuros (mencionei isso em um post anterior).

Outra coisa que não dá para entrar na minha cabeça: apesar da Constituição da República de Moçambique rezar que toda a criança tem direito a um nome e um registro, ainda existem casos de muitas crianças que sequer tem uma carteira de identidade.

E o pior ainda está por vir: estatísticas do Portal do Governo Moçambicano indicam que nos últimos dois anos foram registrados 8.137 casos de violência contra as crianças em todo o país. Outra dura realidade.

Preocupado com a questão, o Governo Moçambicano, mobilizou esforços para tentar amenizar esse tipo de conflito. E o que foi feito (além de um grande marketing político em torno da questão)? Foi criado um número telefônico de denúncias chamado “Linha Fala Criança”. Esse telefone é um mecanismo para averiguar casos de violência contra a criança. Essa iniciativa, conforme fui informado, já está produzindo alguns resultados. É muito pouco? Talvez, mas não deixa ser alguma coisa.

Se você estiver aqui em Moçambique e quiser denunciar maus tratos contra as crianças é só discar 116. A ligação é gratuita.

Conheça, no vídeo abaixo, algumas crianças da Comunidade de Intaka, no bairro de Zimpeto, em Maputo. São lindas e oxalá tenham uma sorte melhor, sempre!

Gostaria de ajudar algumas das crianças moçambicanas em risco social? Há um “Programa de apadrinhamento” muito legal no país. Clique aqui,  saiba mais e colabore.

Hambanine e até o próximo post!

Fontes de pesquisa:

 Portal do Governo de Moçambique

Unicef – Moçambique

Save the Childen – Moçambique

Futebol em Moçambique – Maxaquene leva a taça nacional

Conheça o clube que sagrou-se pentacampeão moçambicano em 2012 e saiba mais sobre a seleção do país

Os moçambicanos, de um modo geral, gostam de futebol tanto ou mais que nós brasileiros. Isso reparei já na minha chegada aqui. Bastou falar que sou brasileiro que, logo vários deles com os nomes dos nossos jogadores na ponta da língua, se aproximaram e falaram abertamente sobre o “futebol canarinho”.

Muitos aqui têm admiração pelo Corinthians e Flamengo. E mesmo que eu (como um cruzeirense apaixonado) não leve em consideração essa aberração (risos), é sempre bom conversar com os moçambicanos sobre esse esporte tão apaixonante. Isso é muito bacana.

Perceber também o apreço que eles têm por nossa seleção é algo que dá lá no fundo um certo orgulho em ser brasileiro.  Talvez, me faça valorizar um pouco mais nossas conquistas no futebol, apesar da época de vacas magras que atravessamos.

Eles (os moçambicanos) realmente torcem por nossa seleção.  Digo “seleção”, porquê por aqui andei ouvindo  críticas vorazes à “selemano” que segundo alguns, é apenas um amontoado de jogadores com uma estrela solitária (entenda-se Neymar) perdida em meio à bagunça tática do nosso técnico, o Mano Menezes.

De acordo com os moçambicanos, o nosso treinador está com os dias contados à frente do cargo. Oxalá eles tenham razão, porque a Copa está aí pertinho e a camisa canarinho deve voltar a brilhar, principalmente, em nosso território que terá os olhos do mundo voltados sobre ele.  Dito isso, quero falar que já estava pensando em postar algo sobre essa paixão por aqui e agora, apareceu a oportunidade.

O campeão do Moçambola

Ontem, no final da tarde, o Clube de Desportos de Maxaquene, mais conhecido como Maxaquene, sagrou-se no seu campo em Maputo, pentacampeão nacional de futebol. Faltando ainda duas rodadas para o término do Moçambola 2012, o clube já não pode ser mais alcançado. Depois de um jejum de nove anos, o tricolor de Maxaquene conquistou mais um campeonato nacional e o título foi efusivamente comemorado nas ruas de Maputo.

O clube foi fundado em 1920 com o nome de Sporting Clube de Lourenço Marques. O Maxaquene é conhecido por ser o primeiro clube da carreira de Eusébio, um dos maiores jogadores da história da Seleção de Portugal (falo disso a seguir).

Em 1976, com a Independência do Estado de Moçambique, o clube mudou de nome passando a ser chamado de Sporting Clube de Maputo. E dois anos depois, mudou para o nome atual.

Um dos mais tradicionais clubes de Moçambique, o tricolor já levou cinco campeonatos nacionais (contando a conquista do Moçambola de 2012), 9 Taças de Moçambique (equivalente a nossa Copa do Brasil) e inúmeros campeonatos provinciais (entenda estaduais).

O estádio do Maxaquene tem capacidade para 15.000 torcedores e sua torcida em Moçambique é considerada uma das mais apaixonadas.

Veja no vídeo abaixo dois golos (como dizem por aqui) do Maxaquene frente à equipe do Ferroviário de Pemba.

Seleção de Moçambique

Conhecida popularmente por “Os Mambas”, a seleção do país, se falarmos em futebol jogado, ainda está muito aquém do que espera o torcedor moçambicano. Para o desprazer dos mais apaixonados, “os cobras” não tem alcançado muitos sucessos no que vem disputando.

A seleção dos Mambas é apenas a 107º colocada no ranking FIFA. Já no ranking africano de futebol, Moçambique, ocupa o honroso 28º lugar.

Em relação aos adversários do país na classificatória para o Mundial´2014, o Egito que está em sua chave, está na 42º colocação do ranking FIFA e é o favorito a ser o vencedor de seu grupo, que ainda conta com a Guiné e a seleção do Zimbábue.  Infelizmente, segundo os moçambicanos, há poucas chances de vermos sua seleção disputar a Copa no Brasil.

Na história, o jogador mais famoso da seleção de Moçambique foi Chiquinho Conde, que atuou no Sporting de Portugal. Mas o nome mais cultuado pelos moçambicanos (carentes de bons jogadores até hoje) é o de Eusébio, o famoso “pantera negra”, que nasceu no bairro de Mafalala em Maputo, e apesar de nunca ter defendido a seleção de seu país, disputou a Copa do Mundo de 66 por Portugal, encantando o mundo por sua habilidade e vigor físico. Fazendo uma alusão meio tosca, Eusébio para o moçambicano seria o nosso Pelé.

Veja no vídeo abaixo um pouco da história do jogador de Moçambique.

Atuamente, há jogadores moçambicanos atuando em clubes da África do Sul, China e Portugal. Por que não no Brasil? Ah, esse brasileiro que vos escreve gostaria de ver um moçambicano correndo nos gramados brasileiros, viu?! Seria ótimo.

Diretoria do Cruzeiro Esporte Clube, se liga. Há muitos moçambicanos bons de bola, que adorariam vestir o manto celeste. E olha, muitos deles correm e marcam melhor que esses cabeças de bagre que atualmente ganham horrores no Cruzeiro e não honram a camisa azul.

Abaixo seguem dois vídeos da seleção local. O primeiro mostra à paixão dos moçambicanos pelos Mambas. Já o segundo é um vídeo de uma vitória da seleção moçambicana por “penalidades máximas”, onde os donos da casa bateram a Tanzânia por 8 a 7. Essa vitória rendeu aos Mambas a passagem para a última fase eliminatória de acesso ao CAN´2013 (Copa das Nações Africanas).

Fonte de pesquisa: Jornal A Verdade – Moçambique.

Espero que tenha gostado. Hambanine e até o próximo post!

“Gugu me ajude”

Realidade fantasiosa da “TV Brasileira” ganha cada vez mais força em Moçambique

Quem me conhece, principalmente as pessoas mais próximas, sabem que estou produzindo um documentário com inspiração etnográfica numa imersão na Comunidade Rastafári em Moçambique.

Esse “doc” tem sido feito em parceria com o meu amigo Felipe Nascimento, um estudante brasileiro de História que vive em Maputo há quase três anos, e estuda na Universidade Eduardo Mondlane (maior centro de ensino superior de Moçambique). E na produção desse novo trabalho, eu não poderia deixar de mostrar a você as cenas inéditas que presenciei.

Nas últimas duas semanas, além das gravações e do contato com os Rastas (falarei mais disso por aqui em breve), fomos conhecendo também a comunidade vizinha ao Tabernáculo Rastafári, onde estão sendo filmadas as imagens do documentário.

Desse contato com as famílias, crianças e adolescentes de Intaka, captamos também algumas imagens que renderam pérolas muito interessantes do tipo: influência da TV Brasileira em Moçambique, alguns retratos sociais do país, a identidade moçambicana e a cultura africana de um modo geral.

Abaixo seguem dois vídeos que considero muito bacanas. No primeiro apresento para você a adolescente Flávia, que sonha em ser modelo e pede ao  “Programa do Gugu” para ajudar a sua família. Além disso, na conversa despretensiosa do vídeo, fica claro o carinho que os moçambicanos têm com o Brasil.

Seriam as novelas e programas brasileiros que chegam aqui ou a língua portuguesa que nos une responsáveis por essa admiração? Responda por si mesmo (a). A realidade fantasiosa mostrada pelas novelas são boas para o moçambicano? Deixo essas perguntas no ar.

Já no segundo vídeo, Flávia e sua amiga Asule, de maneira simples, mostram a influência das novelas brasileiras por aqui, falam um pouco da identidade cultural da mulher moçambicana e ainda mandam beijinhos para o Brasil. Um vídeo super despretensioso, mas que trouxe um pouquinho da África que “fala português” que agora, você passa a conhecer. Espero que goste!

Os vídeos foram feitos de maneira espontânea. Não houve edições e esse foi o objetivo. Aconteceu como tinha que ser e não poderia deixar de mostrar para você que tem acompanhado o “Terras de Moçambique”.

De forma clara, os dois vídeos desnudam alguns retratos sociais do país e talvez, quem sabe, denuncie também de maneira simples à realidade fantasiosa das novelas brasileiras, que ganham cada vez mais força na vida dos moçambicanos. Fica então, o convite para se pensar sobre.

 

Hambanine e até o próximo post!

Intercâmbio musical entre Brasil e Moçambique

Encontro de banda brazuca e músicos moçambicanos rende bons frutos

A musicalidade da África é algo incrível e tenho tido o prazer de conhecê-la aos poucos. Esse talento musical africano emana de todas as partes.

Qualquer sítio (lugar como dizem por aqui), é pouso certo para vermos alguém cantando ou tocando algo com muita maestria e naturalidade. E a boa música em Moçambique, afinada ao talento de seus músicos, é um traço marcante do país.

Agora, imagine o encontro desses músicos  locais com a artéria musical brasileira, que pulsa talento o tempo todo? É, foi isso o que presenciei e confesso: foi muito legal.

Recentemente, uma banda brasileira do Estado de São Paulo, chamada “Família Gângsters”, se apresentou em Maputo e pude conhecê-los. Eles ficaram hospedados no mesmo backpacker onde eu estava.

Acompanhei-os nos shows que fizeram no Gil Vicente Café Bar: uma casa noturna tradicional da capital de Moçambique, que funciona de terça à sábado, onde sempre tocam músicos de toda a África. É o point da efervescência musical de Maputo, eu diria.

A banda paulista que tem por base a mescla de sonoridades do regaae, ska, rock e ritmos brasileiros, fez dois shows sensacionais na referida casa. Os membros da banda: Pedro Lobo (vocalista e baixo), Felipe Gomide (bateria), e Marcos Mossi (guitarra), contaram ainda com a participação de alguns músicos moçambicanos no decorrer das duas apresentações. Quer saber mais sobre a “Família Gângsters”? Clique aqui.

Com uma proposta super do bem, transmitindo sempre uma mensagem positiva e idealista, a banda, pelo que pude perceber, busca aproximar-se das diferentes tribos da aldeia global num processo batizado por eles próprios de “familiarismo”: nem à esquerda, nem à direita, o lance é seguir em frente.

A palavra “celebrai” foi algo recorrente que ouvi entre os membros da banda. Daí, já dá para ter uma ideia do que buscam esses garotos de São Paulo. A celebração, a música e a transcendência musical.

Além das apresentações no Gil Vicente, a banda gravou em um estúdio de Maputo três músicas com importantes músicos de Moçambique, donos também de muito talento. As faixas viajam pelas mais diferentes influências e estilos e alguns dos convidados cantam em dialetos locais.

Uma das músicas gravadas foi com o rapper  Azagaia, o maior nome da música de protesto em Moçambique. Nessa faixa, conforme informações do site da banda, há uma crítica às novelas brasileiras e à sociedade consumista.

Outra faixa gravada pela banda brasileira foi com a cantora Lenna Bahule. A música tem uma pegada groove e a composição mesclou ainda influências de “tambores sampleados” do candomblé brasileiro.

Já a última faixa gravada ficou por conta do encontro dos paulistas com o cantor e instrumentista Cheny Wa Gone. A faixa evidencia o som da timbila e da mbira, instrumentos tradicionais de Moçambique.

Parte da composição é um mix da voz do vocalista Pedro Lobo cantando em português junto à voz afinadíssima de Cheny, que canta no dialeto chope. Confira no vídeo abaixo o resultado desse encontro.

Quer conhecer as outras faixas gravadas em Moçambique pela “Família Gângsters”? Basta acompanhar a fan page da banda.

Que o exemplo da talentosa banda de São Paulo fique para outros músicos tupiniquins. Acompanhei um pouco desse intercâmbio entre os brasileiros e os moçambicanos e fiquei admirado com o resultado.

Oxalá tenhamos cada vez mais esse tipo de reunião por aqui. E que não só as novelas, os negócios da Vale do Rio Doce e o idioma nos aproximem de Moçambique, mas também as nossas naturais musicalidades. Assista no vídeo abaixo o que os meninos da “Família Gângsters” andaram registrando por aqui. Muito legal.

 Hambanine e até o próximo post!

A cerveja é paixão por aqui também

Conheça as marcas mais famosas consumidas no país

Chegou o dia para falar de coisa séria (risos). Já faz um tempinho que tenho pensado em escrever um post sobre as cervejas moçambicanas. E especialmente hoje, a coragem veio junto dos copos que tomei.

Depois de uma ou duas garrafas ficou bem mais fácil escrever sobre o assunto (risos). Nunca falei que eu não gostava de cerveja. Apologia? Sim, senhoras e senhores. Isso mesmo! (risos)

Pensa que a cerveja é uma paixão exclusiva do Brasil ou dos europeus? Não se engane. Por aqui o culto à cevada é bastante difundido, e o consumo é feito por todas as classes sociais, indistintamente.

“Tás a perceber? Esse povo está a consumir muita cerveja, eh pah”! Logo na minha chegada em Moçambique, em viagem à cidade da Beira, foi o que eu ouvi de um amigo moçambicano que reside em Maputo, mas é natural daquela cidade.

“Gostas de cerveja também? Que “nice”! Vou apresentar para você marcas que estão a fazer a cabeça do moçambicano de norte a sul do país”, afirmou “o gajo”, servindo-me um copo.

Brindamos o gosto pela cerveja e experimentei algumas marcas daqui. Em Moçambique, há cervejas nacionais e se consome também rótulos sulafricanos. Aqui se bebe cerveja tanto ou mais que no Brasil. Tenho que confessar: achei isso bem interessante. (risos)

Há três marcas principais produzidas em larga escala. Todas da mesma cervejaria, a empresa Cervejas de Moçambique. Vamos aos rótulos: temos aqui a Laurentina, a 2M e a Manica, a filha caçula criada nos últimos anos pela fabricante.

As duas primeiras são super tradicionais no país. Para os moçambicanos, talvez tenha um gosto quase nostálgico, pois ambas são comercializadas por aqui desde o tempo colonial. A Laurentina tem esse nome em homenagem à antiga capital de Moçambique no tempo colonial, Lourenço Marques, hoje, chamada Maputo.

Fabricada desde a década de 30, é a mais premiada de todas as cervejas de Moçambique. E as suas variantes: a Clara, a Preta e a Premium já ganharam diversos prêmios internacionais de qualidade. Os últimos foram nos anos de 2008 e 2009, onde as marcas levaram conjuntamente as medalhas “Grande Ouro” no concurso internacional Monde Selection, realizado na Bélgica.

No entanto, não é só de louros que a Laurentina vive. Recentemente, a marca virou foco de uma polêmica. Um anúncio publicitário apelativo e um comentário infeliz por parte de um dirigente do alto escalão da empresa dona da marca, causou inúmeros protestos no país. A foto abaixo ilustra o equívoco da campanha publicitária.

O anúncio já era para lá de polêmico (por criar perspectivas sexistas e racistas), aí o representante da empresa me solta publicamente essa: (…) “usamos a palavra “preta”, porque é como a cerveja é conhecida e a frase da campanha “ficou de boa para melhor”, foi em função do novo formato da garrafa que é “melhor de pegar””. Aí já viu né? O cara tentou consertar e fez uma alusão mega infeliz ao corpo da mulher. Todo mundo caiu matando (e com razão). Veio mídia e parlamentares para cima da empresa.

Assista aos dois vídeos abaixo e veja a saia justa que se meteu a empresa Cervejas de Moçambique, dona da marca Laurentina.

Os protestos não cessaram até a campanha ser interrompida. Quer saber mais sobre isso? Clique aqui

A outra marca de destaque em Moçambique é a 2M. É a mais consumida pela população. O interessante é que o rótulo da cerveja mais bem aceita pelo público, leva a abrevitura do nome do conde Mac-Mahon, alcunha de Marie Edmé Patrice Maurice, que em 1875, decidiu a favor de Portugal numa disputa com a Grã-Bretanha pela posse de parte do sul de Moçambique. Curiosidades à parte, vamos à última marca.

A Manica é também da mesma empresa e levou esse nome em homenagem à província de mesmo nome, na região central do país. Das três cervejas citadas, particularmente, eu gostei mais dessa. Talvez por ser mais encorpada e se assemelhar um pouco à cerveja Itaipava, do Brasil.

As garrafas, os preços e o chopp

Falei das cervejas, mas não mencionei as garrafas que, em Moçambique, são diferentes das do Brasil. Estamos acostumados a vê-las em nosso país  na versão de 660 ml, sendo servidas em copos americanos (muita gente em Belo Horizonte também conhece esse tipo como “lagoinha”). Mas aqui há diferenças. Geralmente, as cervejas em Moçambique são comercializadas em garrafas de 550 ml e são bebidas por uma única pessoa.

Há também versões em long neck como no Brasil. Mas nos “butecões copos sujos” das ruelas do país, o que reina são as “garrafas grandes” (de 550 ml), como se diz por aqui.

Os preços delas são variáveis, de acordo com o local em que você está. Mas em média a “garrafa grande”, de 550 ml, sai por volta de 50 meticais. Em reais é algo próximo de R$3,60.

Os cervejeiros de plantão, a essa altura, já devem estar se perguntando: e o chopp? Ah, aqui tem também, mas com outro nome. Em Moçambique, chamam o nosso conhecido chopp de “pressão”. Um copo de 300 ml sai por 30 meticais, algo em torno de R$ 2,25.

Enfim, quem curte cerveja gosta dela estupidamente gelada, certo? Pois é, salvo em raras exceções, por aqui, infelizmente, essa máxima não se aplica. O calor da África, muitas vezes, não deixa as cervejas locais ganharem aquela “nuvenzinha branca de gelo” como as que vemos nas garrafas brasileiras. Mas para um bom bebedor de cerveja, um “tzzzz” já basta né? Então, com esse sonzinho gostoso do “tzzzz”, abro mais uma garrafa de Manica e termino esse post.

É cientificamente comprovado que a cerveja causa euforia e em casos extremos, saudades. Então, este post fica como uma homenagem aos meus amigos jornalistas especializados na “arte de cervejar” (seus terríveis – risos) e ao Arcângelo Café: a varanda mais charmosa e aconchegante do Edifício Maletta, em Belo Horizonte/MG, onde os etílicos do Centro Universitário Una (alunos e professores) dão o ar de suas graças.

Fontes de pesquisa: “Botecos copos sujos” de Maputo, Catembe e Costa do Sol e ainda adjacências eletrônicas: (risos) Macua Blog e Jornal de Notícias.

Hambanine e até o próximo post! No próximo, prometo não beber antes de escrever. (risos)