As coloridas capulanas

Oba, estamos de volta

Meu período de experiências em Moçambique se encerrou. Mas o blog não chegou ao fim. Demorei, mas voltei ao “Terras de Moçambique“. Por que? Pergunte para a “saudade”.

Nessa ausência do blog, pude perceber o quanto foi transformadora à experiência de viver em outro continente. Sentir as influências de uma cultura diversa da minha me fez muito bem. Prova disso, é a saudade imensa que estou sentindo, agora. 

Aproveito esse retorno para agradecer a todas as pessoas que me acolheram em Moçambique (principalmente: Felipe, Ngomane, Patrícia, Germaine, Patrick, Mara,  Daniel e Rastas do Intaka). E também para expressar à minha gratidão a todos os leitores do blog, que têm me incentivado a continuar a escrever sobre esse apaixonante, colorido e intrigante país. 

Mapa MoçambiqueÉ sempre um prazer falar ou escrever sobre Moçambique. São terras de uma pátria que, se não nasci em carne, encontrei-me “redescoberto em espírito”. A palavra é paixão. Sou apaixonado por esse país e por tudo o que o envolve a sua gente (digo isso sem medo de errar).

Tenho que confessar a você: fui consumido pela riquíssima cultura de Moçambique. Isso foi ótimo! Ah, e  também me indignei com as dificuldades enfrentadas por sua gente. Isso doeu! Quando paro e penso em tudo que vivi, fica um sentimento de que muita coisa ficou por dizer. Foram apenas sete meses vivendo nessas terras, e o que postei por aqui não é nada. 

Mostrar para vocês um pouco de “Moz”, é relatar o quanto foi válida à minha experiência como estudante de jornalismo por lá. É evidenciar o quanto eu aprendi com os irmãos moçambicanos. É mostrar, de alguma forma, as cores dessa gente guerreira e de sorriso largo. 

Por isso, voltei.  E sem pretensões (apenas movido pela saudade), quero continuar a trazer para você um pouquinho mais desse país. 

O teor do presente post foi escrito ainda quando eu vivia em Moçambique. Talvez tenha me faltado tempo para publicá-lo. Mas nunca é tarde, aqui vai ele… 

Espero que você goste e continue acompanhando.

CAPULANA – uma indumentária típica de Moçambique

capulanas moçambicanas

Quem anda por Maputo, capital de Moçambique, ou viaja pelo país, já viu incontáveis vezes as mulheres por aqui usando esse tipo de tecido, uma tradição cultural moçambicana.

As ruas são pintadas pelas cores das vestes dessas mulheres, que usam a chamada “capulana”. Você já ouviu falar? A capulana de Moçambique se assemelha a uma canga que nós usamos nas praias brasileiras. Só que é um tecido mais grosso e as mulheres daqui as usam no dia a dia.

O pano chega a ser um pouco áspero, se comparado ao das cangas que estamos acostumados. E é exatamente isso que o faz ser tão usado.

Basta dar um nó que fica seguro e vira uma saia. Não há perigo do nó se desfazer e as cores vibrantes chamam a atenção, conferindo à indumentária um charme todo especial.
São realmente lindas: tons coloridos com motivos africanos, formas abstratas, padrões xadrezes, linhas antropomórficas, desenhos zoomórficos e uma variedade infinita de detalhes, que deixam todo mundo admirado com a beleza desses tecidos, principalmente aqueles que vêm de fora e não estão acostumados com essa riqueza de cores.

O tecido é vendido em cortes de 2 metros. Tradicionalmente, as capulanas são de 4 metros e se vende a metade, que serve para as mulheres daqui cobrirem o corpo numa espécie de saia que elas improvisam. Mas há também outras formas de usá-la, como contarei a seguir.

capulanasA tradicional capulana veste todas as classes sociais. Mas quem usa mais são as camadas pobres. Com preços acessíveis, o tecido é comprado pelas “mamás” (maneira respeitosa como os moçambicanos tratam as mulheres mais velhas), e serve para vestí-las, para carregar suas crianças nas costas e sentar no chão.

Nas classes média e alta, a capulana já não é muito usada da maneira tradicional como o moçambicano está acostumado: em forma de saia. Entre elas, a capulana ganha um ar mais descolado. As mulheres fazem calças e blusas do tecido, criam pulseirinhas e colares com o pano, usam bolsas feitas com as estampas das capulanas, e você pode ver até mesmo um “lencinho cult” amarrado no pescoço ou na cintura, que combinam com sandálias e rasteirinhas explorando a versatilidade do produto.

O tecido é utilizado também em ritos de passagem como o batismo e o funeral. Usa-se ainda para decorar a casa, o sofá e a mesa de jantar.

Vejo ainda muitas mamás usando a capulana jogada ao chão com seus produtos à venda. Os homens? Ah, eles também usam. Nas ruas de Maputo vejo muitos com camisas e calças de capulana. Contudo, é a mulher moçambicana que não deixa a tradição de usar as capulanas se perder.

A origem da capulana e o comércio do produto

A versão mais disseminada, segundo vários moçambicanos que conversei, é de que capulana foi trazida da Índia. Abaixo segue um fragmento extraído do site “Moçambique Tradicional”. O recorte traz um pouco mais sobre a origem da capulana.

“A presença indiana é um factor decisivo no desenvolvimento do traje da mulher moçambicana, refere o documento da exposição de Suzette à Festa na Ilha. O mesmo documento diz ainda que mais tarde, em meados do Séc. XIX, no Sul do Save, as transacções comerciais envolviam capulanas ou um jogo completo de dois panos e lenços. O documento faz menção ainda ao povo português, que foi um dos responsáveis por este tecido se espalhar por África.

Sabe-se que várias regiões de Moçambique produziram têxteis. Durante os Séc. XVIII e XIX, os Estados Marave do Norte de Moçambique produziam panos de algodão de cor branca, as machiras que faziam parte do comércio internacional na costa oriental de África. Do Séc. XVIII em diante começa o período de importação de tecido. No princípio do Séc. XX, no litoral de Cabo Delgado as mulheres com possibilidades financeiras, vestiam as capulanas intituladas tuukwe ou succa. A primeira tem cor preta e a segunda, branca.

Os comerciantes vendiam-nas, cortando-as em duas peças de tecido com um comprimento de quatro metros”, refere a mesma fonte. Já no Sul de Moçambique, na região de Delagoa as mulheres com posses vestiam-se com pano azul-escuro sem qualquer padrão. O uso das cores indicava ainda a posição social, rituais e convicções culturais e religiosas. Só a partir de 1920 é que a capulana começa a ser vestida à escala nacional. Dos anos de 1930 em diante, em todo o território moçambicano generalizou-se o uso da capulana”.

Independente da veracidade da sua origem, incrível mesmo é um tecido tão simples ter sobrevivido há séculos”.

Fonte de pesquisa: Moçambique Tradicional.

Hambanine e até o próximo post!

As ondas da Rádio Moçambique e o jornalismo no país

Um dos diretores da RM fala sobre a história do veículo e mostra sua visão sobre o alcance do jornalismo no país

Antônio Miguel Npassoa, nasceu em 11 de junho de 1971, em Caia, na província de Sofala. É licenciado em Linguística pela Universidade Eduardo Mondlane.

Durante muitos anos foi jornalista cultural freelancer, tendo publicado vários artigos em importantes veículos impressos do país, os jornais: “Savana” e “Notícias”.

É profissional de rádio desde o final da década de 80. É também professor universitário e consultor. O novo entrevistado do “Terras de Moçambique”, é ainda diretor do Depto de Línguas da Rádio Moçambique – a maior rádio do país. Autor do livro: Serviço Público de Radiodifusão – Desafios do Presente e do Futuro, Ndapassoa, fala sobre a história da rádio pública de Moçambique, explica como o veículo chega a todas as províncias do país, e esclarece como a rádio trabalha com o uso das línguas e dialetos locais  para chegar ao seu público, com um foco permanente no resgate da identidade nacional.

O diretor da RM, aborda também questões como a profissão de jornalismo na África Austral, menciona a diferença entre uma rádio pública e uma rádio estatal, faz um diagnóstico da liberdade de expressão por aqui e levanta a discussão da obrigatoriedade da formação superior em jornalimo, para se exercer a profissão (aqui também vivemos esse dilema do diploma). Já no final da entrevista concedida, o professor menciona ainda as dificuldades dos moçambicanos em ingressar no ensino superior e vislumbra futuros melhores para os jovens.

Clique no vídeo abaixo e saiba mais sobre esses assuntos, que são bastante importantes na vida do moçambicano.

Espero que tenha gostado. Hambanine e até a próximo post!